Retratos do Congado. – Timóteo (MG)

Samyla Almeida

Tenho 20 anos e moro no interior de Minas Gerais. passei o dia tentando assimilar o que está acontecendo com as fotografias que fiz sobre essa cultura viva e ancestral que é o Congado. nada feito. pode ser o maior textão da história e nada vai explicar o que tá acontecendo aqui. é muito doido ver o poder da fotografia e a união transformadora que ela move pra tudo existir. eu achava que como mulher preta, favelada e lésbica, fotografar não era pra mim. como retratar pessoas quando nunca tive minha existência respeitada ou vista? mas tudo mudou quando fui apresentada e ensinada sobre uma fotografia que respeita existências e cria pontes sobre abismo, e é essa fotografia que quero levar para o mundo. quando se nasce preto e favelado a gente aprende desde cedo que ser visto, falar, receber afeto e existir não é direito nosso. pra eles o sonho não é uma possibilidade pra gente, mas não é assim e nunca vai ser. meu objetivo é mostrar que é possível sim falar do povo preto e favelado com ternura, amor e afeto. favela é lugar de paz e gente feliz. quero dizer nossa verdade, aquela com a qual não vejo a mídia se preocupando. quando você ouve histórias negativas sobre você o tempo todo, sua auto-estima diminui e você não acredita que pode fazer as coisas. mais do que ocupar e ver retomar o que nosso por direito. é sobre mostrar que somos e sempre seremos infinitos. eu sou o sonho da minha quebrada, o sonho da minha mãe, que era o sonho dos meus avós, que eram sonhos dos meus ancestrais. vitória é sonho dos olhares que nos aguardam nos lares, crendo que na volta somos mais.